Tuesday, May 16, 2006

~Palácio das cinzas~

Observo as portas que já não se abrem. Nelas moram o pó e as cinzas de uma vida, uma história. A música gregoriana deixa-me no centro deste espaço e acompanha a tosse pesada destes que cá vieram chorar a queda das suas varandas interiores, e estes, pendidos sobre a música.
As velas queimam, lentamente, um pouco da luz que vive cá dentro: é como se em cada uma delas houvesse um sopro de uma pessoa e em cada pessoa, a dor de cada vela.
Oiço os sussurros caidos entre os lábios acizentados de cada vazio que aqui se senta. Oiço o cansaço-sentadamente maduro. E, de vez em quando, a música grita em voz baixa com as lágrimas que sinto baterem no chão.
As flores morrem com as cinzas e as cinzas nascem em cada joelho rendido ao olhar Maior que vem do altar.
Trinta e quatro cadeiras vazias, uma ocupada, vinte e duas cadeiras vazias, uma ocupada. Os chapéus destes já residentes neste palácio das cinzas, caem sobre os ombros dos seus suspiros, entre os cantos, e desfazem-se para as mãos, pelas veias quase secas.
Levanto-me, venho-me embora. Olho para trás e vejo-me lá sentada, onde perdi os meus medos, por momentos.



Raquel

3 Comments:

Blogger The Flying OranGe said...

Adorei =)
Sabes escrever, e felizmente (acho eu), ainda vou conseguindo perceber...

3:04 PM  
Anonymous Anonymous said...

Gostei Está mt Bonito!
:)

7:12 AM  
Anonymous Anonymous said...

"Resta esse coração queimando como um círio numa catedral em ruínas...
Essa tristeza diante do quotidiano,
Ou essa súbita alegria, ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória..."

3:04 PM  

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