Friday, June 09, 2006

Ricardo Reis
Vem sentar-te comigo Lídia...

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e nao estamos de maos enlaçadas.
(Enlacemos as maos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nao fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as maos, porque nao vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixoes que levantam a voz,
Nem invejas que dao movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagaos inocentes da decadencia.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as maos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

7 Comments:

Anonymous Anonymous said...

consegues de alguma maneira dar-me o que preciso de ler. thanks!

9:03 AM  
Anonymous Anonymous said...

Que giro... tenho-me lembrado deste poema nos últimos dias.
Já há muito que não lia...
Foi bom chegar aqui e poder lê-lo de novo.

3:25 PM  
Anonymous Anonymous said...

"Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nao fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses."

já me tinha esquecido... acho que este poema me assusta...

9:09 AM  
Blogger The Flying OranGe said...

Eu disse!... Eu disse! >=| actualiza isto pah!

3:00 PM  
Anonymous Anonymous said...

Quem diria,
Que um dia,
Voltava a ver Raquel
Fiquei parado e pouco lhe falei...
Há quanto tempo te via
Julguei até ja ter estancado a hemorragia
Mas vejo k o tempo nao passou..
Como era bom, contar-te o que eu sentia
Mas vejo que a conversa vai ficar para outro dia,
Por hora só me sai:
Raquel


queres ouvir?
http://sg1.allmusic.com/cg/smp.dll?link=tmhcbyk2sfff5agkbux5id1&r=64.asx

10:16 PM  
Blogger janela amarela said...

este poema é fabuloso!!! :))

6:41 PM  
Anonymous Anonymous said...

Há teorias contrárias...

"Como Dizia o Poeta", de Vinicius de Moraes

"Quem já passou
Por esta vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou
Pra quem sofreu, ai

Quem nunca curtiu uma paixão
Nunca vai ter nada, não

Não há mal pior
Do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa
É melhor que a solidão

Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir?
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer

Ai de quem não rasga o coração
Esse não vai ter perdão."

11:09 AM  

Post a Comment

<< Home