Saturday, February 10, 2007

A outra capa do livro.

Tenho visto o tempo mudar. Tenho tido tempo para o tempo. Tenho passeado nas ruas onde já me passeei antes, sem que me pesem os ombros e me arda o peito. Tenho sorrido sem ter medo de parar de o fazer. Porque parar é a única forma de seguirmos em frente, de continuarmos. Tenho ouvido as minhas músicas mais bonitas sem querer trocá-las por outras. Tenho ido a exposições e a concertos sem desejar que outra pessoa lá estivesse comigo. Tenho ouvido jazz, oldies e tenho entrado em lojas onde se vendem discos de vinyl. Não me dói, juro que não. Tenho tirado fotografias sem pensar que ficariam melhor se me ensinasses, tenho gostado delas como ficam. Tenho arrumado e limpo a casa, tenho feito a cama. Tenho ido a horas para a escola e tenho tido vontade de ir a ler e a ouvir música sem querer evitá-lo, sequer. Tenho apanhado o metro, tenho andado de eléctrico e tenho ido à feira. Não me dói, juro que não. Tenho escrito e desenhado e tenho pintado. Sabe-me bem ter-me. Sabe-me bem o meu amor próprio de volta. Tenho ido jantar fora, tenho ido ao cinema e ao teatro. Tenho passado pela casa dos bicos e tenho passeado pelo castelo e tenho sido feliz. Tenho tido duas pernas e muita vontade para muito. Tenho estado com os amigos. Tenho estado com a Maria que compra camisolas que tu ias gostar e tenho-lhe dito: "Compra, Maria, fica-te bem!" sem ter medo que me lembre de ti, quando ela as usar. Tenho comido frango. Tenho cozinhado arroz. Tenho sido uma criança, que é o que de mais belo há. Tenho sido pequena, tenho sido crescida. Tenho tido cabeça. Tenho ouvido Madonna e tenho gostado. Tenho comprado cds de Drum ´n Bass, tenho lido a fio livros de História de Arte. Tenho pegado na minha guitarra e tenho vindo a perder a vergonha de cantar. Sabe-me bem cantar de noite e ouvir a chuva lá fora. Tem chuvido. Tenho-me deitado cedo. Hoje já durmo na cama. Está feita. Tem-me doído as costas. Tenho chorado de emoção para comigo mesma. Tenho dito emoção sem ter medo que não compreendas. Tenho pensado que quero que estejas bem, estejas onde estiveres, com quem estiveres. Tenho sorrido. Tenho entrado em lojas de roupa de bébé e fico lá a deliciar-me. Tenho subido o elevador da bica sem ter medo de te encontrar lá em cima. Tenho ido beber chá ao bairro alto e comer scones. Tenho vivido.

10 Comments:

Blogger Maria Manias said...

;)

10:57 AM  
Anonymous Anonymous said...

continuas a escrever muito bem... :)

3:44 AM  
Anonymous Anonymous said...

Welcome back*

5:17 PM  
Anonymous Anonymous said...

adorei... a maneira komo usas as palavras o que tranmites...

8:00 AM  
Blogger Peg solo said...

ja disse!

3:01 PM  
Anonymous Anonymous said...

A outra capa do livro... Já te disseram que és um livro com muitas folhas, muitas palavras, muitas letras (preto no branco), muitas imagens (desenhos, fotografias a cores, a preto e branco e fotografias em sepia) e muitas capas? Sim, és um livro, sem prefácio (quem conseguiria escrever um prefácio sobre ti?), com um título simples escrito na lombada e que não diz nada sobre ti: Raquel. És um livro que todos querem ler e poucos ousam folhear. Outros folheiam até as páginas ganharem orelhas. Apenas algumas... há capítulos que ninguém leu e tu nunca descobrirás que existem. Nota: lê a linha seguinte apenas no dia 15.

Feliz aniversário Raquel(is)

6:15 AM  
Anonymous Anonymous said...

o vidro do relógio desse tempo é fosco..pra saber o tempo exato de tua chegada.
esperança....

2:56 PM  
Blogger Satya said...

Sabes, os livros renovam-se também, não só na capa. Renovam-se em cada palavra, de cada página, quando relida, por a mesma, ou por outra pessoa qualquer. Nós mudamos, e nós somos o "eu" e o "outro" em simultâneo, somos o mundo, somos quem somos, e a vida vai seguindo lá fora e cá dentro, sempre, a compassos diferentes, em ritmos diferentes, para todos. Nos momentos em que o tempo e o espaço de alguém, colide com o nosso, na forma de um abraço, de um beijo, de uma conversa, de um estado, ou só de um olhar que se troca ao longe, existe sempre qualquer coisa de extremo, de limite...de fantástico, mesmo quando não nos agrada de todo. Isto, porque a troca, independentemente do que género e formato a que pertencem, são sempre paginas fundamentais para "o nosso livro", para encher o alfoz que trazemos às costas e que vamos enchendo ao longo dos nossos percursos, como experiências – boas e más – não interessa, experiências, ponto. No entanto, mais intensos ou mais fugazes, os momentos são momentos, o tempo, é só o tempo, e o espaço físico ou psíquico, do outro ou do mundo, é sempre tão somente apenas isso mesmo, com toda a importância que pode ter - e terá necessariamente. Com isto dizer, que mesmo quando uma estrada acaba, haverá sempre tantas outras a percorrer e descobrir. A vida não é estanque, porque havemos de o ser nós. Somos metamorfose, sobretudo, temos várias peles...porém, um só livro, um só caderno de registos. Por isso mesmo, o passado não deve ser esquecido, nem o futuro excessivamente exaltado. É no balanço dos dois que assentam as melhores escolhas e os melhores encontros.
Tens tudo pela frente e já muito por trás. Reflexões são indispensáveis, mas agora …é preciso começar a andar. =)

jo
(...da ginja)

10:02 AM  
Blogger Satya said...

Errata: (lol)
*Isto, porque as trocas, independentemente do género e formato a que pertencem, são sempre paginas fundamentais para "o nosso livro", para encher o alfoz que trazemos às costas e que vamos enchendo ao longo dos nossos percursos, como experiências – boas e más – não interessa, experiências, ponto.

10:04 AM  
Anonymous Anonymous said...

Ain't it better that way?

3:09 PM  

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