Tuesday, January 08, 2008

a loucura.


Ah... quem me dera viver de breves melodias embrulhadas em fotografias antigas... quem me dera viver a preto e branco, sonhar a preto e branco, mudar-me do mundo a cores. A loucura não é interpretar as cores, a loucura é saber ver cores no preto e branco, saber senti-las, saber vivê-las.. Foda-se, as coisas não são tão superficiais assim, o rio não é só a água que passa à pressa, nem o céu é só um tecto nem eu sou só eu, nem tu só tu, sejas tu quem fores. O que seriam das danças vazias na sala, os rodopios perante o chão, o relógio a voltar atrás, os ponteiros a falarem-me da música e eu, eu a sonhar alto, ao longe, no tempo.
Grito, paro e sofro. A última palavra é sempre essa, a do sofrimento. É que a loucura é irmã deste e eu sou irmã da loucura, mas ela vive do meu sangue e eu do sangue dele. É por isto que se devia ficar na quietude, porque a loucur arrasta-se, a loucura entranha-se, a loucura bebe-se, a loucura come-se, a loucura ouve-se, a loucura morde-se, a loucura acalma, a loucura derrete-se e passa em todo o lado, cabe em todo o lado e com ela, com ela o sofrimento vem sempre calminho, sempre mudo, sempre disfarçado de sangue, depois, quando dou por mim, sai-me das mãos e dos olhos e da boca e sai em todas as palavras e grita em todos os silêncios e eu.... eu fujo, com medo.


Raquel, tremendo de frio.


 

1 Comments:

Blogger Satya said...

Arriscaria a dizer que a loucura é o maior sustento da vida. Até porque a loucura pode caber no mais pequeno pormenor da nossa rotina.
Já há mto que nao comentava, mas continuo a ler e a surpreenderme com o teu manuseamento do lado crú das palavras, e de nós.
Não é uma critica, é mais um deslumbramento.
=*
Joana

4:37 PM  

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