Tuesday, June 27, 2006

Às vezes...

...faltam-me as palavras.

Sunday, June 25, 2006

Friday, June 09, 2006

Ricardo Reis
Vem sentar-te comigo Lídia...

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e nao estamos de maos enlaçadas.
(Enlacemos as maos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e nao fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as maos, porque nao vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixoes que levantam a voz,
Nem invejas que dao movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagaos inocentes da decadencia.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as maos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Monday, June 05, 2006

~Não há~

Entre lábios e vozes, toda a vida estremece. Em mãos desatadas, em pulsos abertos como peitos prontos a serem feridos. É urgente atenuar as luzes dos meus olhos, antes que cegue alguém. É preciso que o silêncio caia sobre os meus ombros. É no ponto mais alto da emoção, que foco a sombra, em explosão. Nem o tempo, tem tempo para mim. As palavras estão já tão gastas, tão sujas, tão intemporais... Não há sede que me peça água, não há boca que vibre, nem trema, nem sangre, nem se esconda, sequer. Não há boca. Não há trapos, nem brilhos redondos. Não há luares brancos onde pisar as folhas secas na calçada, descalça, à boca da noite. Não há presenças a viver plenitudes, nem o ardor do vento nos meus seios, arrepiados. Não vejo perfeição nos passos para trás. Não vejo, sequer.